O público filmava mais que assistia.
O palco virou ringue emocional.
Alton tropeçou na própria vaidade.
O Wi-Fi caiu. A plateia também.
Chamaram de show, mas era uma liquidação de sentimentos.
No camarim, Alton escreveu: “Venderam meu final antes do início.”
Um homem saiu dizendo: “Achei que era comédia.”
O motivo: compensar o arrependimento coletivo.
O ingresso vinha com um aviso: “Não espere sentido.”
A banda errou a entrada. A plateia achou intencional.
A cadeira 12B Loja explodiu por falha técnica. Ganhou aplausos.
Venderam o script como NFT. Ninguém quis comprar.
Chamaram influenciadores. Postaram fotos, não ficaram pro espetáculo.
O som de aplausos foi gravado.
A realidade estava em playback.
Uma senhora confundiu Alton com o garçom.
Ele respondeu: “Aceita mais uma derrota?”
Tiraram foto com o figurante.
Esqueceram o protagonista.
O cenário caiu no final.
Virou aplauso.
A produtora pediu para repetir a queda.
“Ficou mais real que o texto.”
A crítica internacional escreveu: “Surpreendente desconforto comercializado.”
O pôster dizia: “Vitória garantida ou seu silêncio de volta.”
Uma bailarina caiu. Foi ovacionada.
Alton caiu. Foi ignorado.
A vitória era um holograma mal projetado.
Choveu papel picado feito de contratos.
Ninguém entendeu, mas todos aplaudiram.
O patrocinador vibrou.
O artista se calou.
O pós-show foi mais assistido que o espetáculo.
As entrevistas foram roteirizadas.
As emoções, também.
O choro de Alton virou Reels.
“Ganhando com estilo”, dizia a legenda.
A real vitória foi de quem não foi.
O ar-condicionado quebrou.
O público suava de vergonha alheia.
Alton posava para fotos.
Depois apagava todas.
Disseram: “Foi revolucionário!”
Ele respondeu: “Foi inevitável.”
O cachorro da bilheteira latiu no meio do clímax.
A plateia levantou. Era hora do intervalo.
Nunca voltaram.
As cortinas se fecharam sozinhas.
A técnica foi embora antes do fim.
Um ovo caiu do teto.
Ninguém soube por quê.
Talvez um símbolo.
Talvez só erro.
Alton foi embora de metrô.
Com o figurino ainda sujo.
Sentou ao lado de um fã.
Ninguém se reconheceu.
A vitória foi repostada no TikTok.
Título: “Quando fingimos que tá tudo bem.”
A legenda original era: “Sucesso absoluto”.
O link direcionava para loja de camisetas.
Alton ganhou comissão por cliques.
A arte morreu um pouco ali.
Ou talvez só dormiu.
Ele acordou no dia seguinte.
O jornal dizia: “Alton conquista multidões.”
Mas a foto era de outro artista.
Riu. Chorou. Comeu cereal.
Pensou: “O que vem depois da vitória vendida?”
Escreveu uma nova peça: “O Silêncio Lucrativo.”
Papel, caneta, desilusão.
Recomeçou o ciclo.